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Authors: Helen Fielding

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (28 page)

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Que
diabo você está fazendo, bobinha? – perguntou ela,
com uma voz que parecia um trinado. Eu estava pesando 100 gramas de
cereais para o café da manhã, usando como contrapeso um
tablete de chocolate (a balança tem as medidas em onças,
o que complica porque a tabela de calorias é em quilos).

Adivinha o que aconteceu, querida? - perguntou ela, enquanto abria e
fechava todos os armários.


O
quê? - respondi, de meias e camisola, tentando tirar rímel
de debaixo dos olhos.


Malcolm
e Elaine vão comemorar as bodas de rubi em Londres, no dia 23.
Agora você pode ir e fazer companhia a Mark


Não
quero fazer companhia a Mark - falei, entre dentes.


Ah,
mas ele é tão inteligente. Estudou em Cambridge. Parece
que fez uma fortuna nos Estados Unidos...


Não
vou.


Escuta,
querida, não vamos começar com isso – disse ela,
como se eu tivesse 13 anos.

Olha, Mark acabou de decorar a casa no Holland Park e vai oferecer a
festa para os pais em seis andares, com bufê e tudo mais. Qual
roupa você vai usar?


Você
vai com Julio ou com papai? - perguntei, para ela ficar quieta.


Ah,
querida, não sei. Talvez com os dois - disse, com aquela
vozinha especial, sussurrante, que guarda para os momentos em que
acha que é a atriz Diana Dors.


Você
não pode fazer uma coisa dessas.


Mas
seu pai e eu continuamos amigos, querida.E sou apenas amiga de Julio
também.

Argh,
argh. Aaargh. Não consigo lidar com ela quando ela fica assim.


Então
vou dizer para Elaine que você gostaria muito de ir, sim? -
disse, pegando a inexplicável máquina de costura e
saindo.

Preciso ir. Tchau!

Não
vou passar mais uma tarde borboleteando em volta de Mark Darcy como
uma colher de purê de batata na frente de um bebê. Terei
de sair do país ou alguma coisa assim.
20h.
Vou a um jantar. Todos os Bem-Casados voltaram a me convidar nos
sábados à noite porque estou sozinha outra vez, e me
colocam sentada na mesa de frente para uma horrenda seleção
de solteiros. Meus amigos são muito gentis e sou grata a eles,
mas isso só enfatiza meu fracasso emocional e minha solidão
- embora Magda continue dizendo que ser solteira é melhor do
que ter um marido adúltero que sofre de incontinência
sexual.
Meia-noite.
Ai, Deus. Todo mundo estava querendo animar o homem sobrante (37
anos, mulher pediu o divórcio há pouco tempo, amostra:
"Para ser sincero, acho que o ministro Michael Howard está
sendo injustiçado.").


Não
sei do que você está reclamando - disse Jeremy,
resistindo.

Os homens ficam mais atraentes quando envelhecem, o que não
ocorre com as mulheres. Então, todas essas mocinhas de 22 anos
que não o olhariam quando você tinha 25 agora ficam
dando em cima.

Sentei e abaixei a
cabeça, pensando furiosa na opinião deles sobre os
prazos de validade das mulheres e da vida como um jogo das cadeiras
em que as garotas sem cadeiras -, isto é, sem homem - caem
fora do jogo quando a música pára - isto é,
quando passam dos 30. Argh. É a mesma coisa.


Isso
mesmo, eu concordo que é muito melhor namorar alguém
mais jovem - falei, distraída.

Homens de mais de 30 anos são tão chatos, com seus
porres e sua paranóia de que toda mulher quer agarrá-los
para casar. Eu hoje só me interesso mesmo por homens de 20 e
poucos anos. Eles são tão melhores na ... entende?


É
mesmo
?
Mas como você ...? - perguntou Magda, curiosa.


É,
v
ocê
se interessa por eles - interrompeu Jeremy, olhando para Magda.

O problema é saber se
eles
se interessam por você. . .


Vai
me desculpar, mas meu atual namorado tem 23 anos - participei,
cândida.

Houve um silêncio
de pasmo.


Bom,
nesse caso, pode trazê-lo no jantar do próximo sábado,
não? - disse Alex, com um sorriso irônico.

Idiota.Onde
é que vou achar um rapaz de 23 anos que queira jantar com
Bem-Casados num sábado à noite, em vez de tomar
ecstasy
batizado?

SEXTA-FEIRA,
15 DE SETEMBRO
57kg,
0 unidade alcoólica, 4 cigarros (m,b.), 3.222 calorias (graças
aos fedorentos sanduíches de rodoviária); 210 minutos
gastos imaginando o que vou dizer quando pedir demissão do
emprego novo.
Argh.
Uma horrível reunião com o chefão-tirano Richard
Finch.


Muito
bem. Banheiros da loja Harrods cobrando uma libra para os clientes
fazerem xixi. Estou pensando em Banheiros de Fantasia. Estou pensando
em um estúdio: Frank Skinner e Sir Richard Rogers sentados em
cadeiras forradas de pele, com pequenos televisores acoplados no
braço das cadeiras, papel higiênico plissado. Bridget,
você fica com a reportagem sobre a Associação de
Ajuda aos Jovens Desempregados de Clampdown. Estou pensando no Norte.
Estou pensando na Associação com os jovens sem nada
para fazer, aparecendo no programa ao vivo.


Mas,
mas ... - interrompi.


Patchouli!
- berrou ele, e os cachorros que estavam embaixo da mesa acordaram e
começaram a pular e latir.


Quê?
- gritou Patchouli por cima da confusão.Estava de minivestido
de crochê com uma blusa de náilon alaranjada por cima e
chapéu de palha. Como se as coisas que eu usava quanto
adolescente fossem fichinhas.


Onde
fica a sede da Associação de Jovens Desempregados?


Em
Liverpool.


Liverpool.
Então, Bridget, ponha os jovens na frente da loja Boots no
shopping
e transmita ao vivo, às cinco e meia. Quero seis jovens.

Depois,
quando eu estava saindo para tomar o trem rumo a Liverpool, Patchouli
disse, distraída:


Ah,
sim, Bridget. Não é Liverpool, é Manchester,
certo?

MANCHESTER,
16H15.
44
contatos com jovens da Associação, 0 jovem da
Associação concordou em ser entrevistado.
Trem
das 19h, Manchester-Londres.
Argh. Às 16h45 eu estava correndo histérica no meio de
jardineiras de concreto e perguntando:


Desculpe,
você tem emprego? Esquece, brigada!


O
que a gente faz, então? - perguntou o câmera, sem
demonstrar qualquer preocupação.


Associação
de Jovens - falei. –
Peraí
.

Fui
correndo até a esquina, tive uma idéia. Comecei a ouvir
Richard, falando no meu ponto de orelha: "Bridget,que diabo, já
fez a Associação de Jovens?" Aí vi um caixa
eletrônico na minha frente.

Às
17h20, seis jovens que garantiam ser desempregados estavam
enfileirados na frente da câmera, cada um com uma nota de 20
libras novinha no bolso, enquanto eu dava uns retoques para eles
parecerem de classe média. Ás 17h30 ouvi a música-tema
de abertura do programa entrando no ar e Richard berrando:


Desculpe,
Manchester, mas sua entrevista não vai entrar.


Hã...
- comecei, olhando para aqueles seis rostos ansiosos. Claro que eles
acharam que eu era uma maluca que fingia trabalhar na televisão.
Pior ainda, como trabalhei sem parar a semana inteira e fui para
Manchester, não pude tomar qualquer providência em
relação ao jantar que tinha de ir com meu "namorado"
no dia seguinte.
Aí,
subitamente, bati o olho naqueles lindos pirralhos tendo ao fundo o
caixa eletrônico e comecei a pensar em algo muito interessante.

Humm.
Acho que foi bom não tentar atrair um jovem da Associação
para o jantar na casa de Cosmo. Seria desonesto, errado. Mas isso não
resolve o problema. Acho que vou fumar um cigarro no vagão de
fumantes.
19h30.
Argh. O vagão de fumantes virou um horrível chiqueiro
onde as pessoas se amontoam, humilhadas e ofendidas. Cheguei à
conclusão de que hoje os fumantes não podem mais ter
uma vida digna, são obrigados a ter uma subvida. Não me
surpreenderia se o vagão fosse discretamente desviado da linha
e sumisse para sempre. Talvez as empresas ferroviárias
privatizadas vão ter vagões de fumantes e, quando o
trem passar por uma cidade, os habitantes vão mostrar os
punhos ou jogar pedras, contando histórias apavorantes para
seus filhos de passageiros que soltam fumaça pelas ventas.
Consegui ligar para Tom de um telefone que é um
milagre-sobre-rodas (Como funciona? Como? Não tem fio.
Estranho. Talvez haja uma conexão elétrica através
das rodas e trilhos) para reclamar da crise por causa do jantar com o
rapaz inexistente de 23 anos.


O
que acha de Gav? - perguntou Tom.


Gav?


É,
aquele que você conheceu na Galeria Saatchi.


Você
acha que ele gostaria?


Acho.
Ele estava bem interessado em você.


Estava
nada. Pára com isso.


Estava
sim. Pára de ser complexada. Deixa comigo, eu resolvo.

Às vezes acho
que, se não fosse Tom, eu sumia sem deixar qualquer
vestígio.

TERÇA-FEIRA,
19 DE SETEMBRO
56,2kg
(m.b.), 3 unidades alcóolicas, 0 cigarro (fico com vergonha de
fumar na frente de pirralhos saudáveis).

Droga,
estou atrasada. Vou ter um encontro com um pirralho metido, tipo
geração Diet Coke Acabei descobrindo que Gav é
uma pessoa ótima e teve um comportamento formidável no
Jantar de Alex no sábado, flertando com todas as mulheres
casadas, me dando atenção e neutralizando as perguntas
traiçoeiras sobre nossa "relação” com
a desenvoltura intelectual de um professor de Oxford. Fiquei tão
grata(*) que, no táxi de volta para casa, não pude
resistir aos ataques dele.(**) Mas consegui manter um pouco de
compostura(***) e não aceitar o convite para entrar no
apartamento dele e tomar um café Mas fiquei me sentindo
culpada, achando que sou uma chata.(****) Então, quando Gav
ligou e perguntou se eu gostaria de jantar na casa dele, aceitei,
gentil.(*****)
(*) morrendo de vontade de ir para a cama com
ele
(**) coloquei minha mão no joelho dele
(***) conter
meu pânico
(****) não parava de pensar “Droga,
Droga, Droga”.
(*****) quase não consegui me conter
de tanta alegria
Meia-noite
Sinto-me como a Abominável Mulher das Neves. Fazia tanto tempo
que não saía com um homem que fiquei toda prosa, não
resisti e contei para o motorista sobre meu "namorado":
estava indo para a casa do meu “namorado, que tinha preparado
um jantar para mim. Mas, infelizmente, quando cheguei no endereço
que ele me deu - Rua Malden, 4 - tinha uma mercearia no lugar.


Quer
usar meu telefone, moça? - perguntou o motorista, com uma voz
cansada.

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